1. |
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Num receptáculo inquebrável
de apetites castrados,
tenta olhar pra fora mas só vê a si
com olhos costurados.
Me diz pra onde foi?
Havia um horizonte...
Me diz pra onde foi?
Existo realmente?
Sempre como antes.
Nada "novo" é novidade.
Nada é "novo" de verdade.
Sempre como antes.
O retorno ao recomeço -
O inferno são os outros.
Sobre sua urna,
levitando em transe,
olhar estático, roubado,
cercado de abutres.
Deitado em pregos,
o faquir asceta
só quer um momento
que valha a pena.
O quebra-cabeça enfim está montado
mas a última peça não encaixa.
A frustração de uma vida inteira
dedicada a uma obra inacabada.
Particionados
em aquários solitários
conversam movendo
bocas por hábito:
"- Replicar o mais do mesmo, fim-começo,
separar real e incerto em pesadelos..."
Sempre como antes.
A palavra é glossolalia -
Somos muitos nessa alma.
Andando em brasas,
engolindo pecados,
olhar distante, impreciso,
peito mumificado.
Deitado em pregos
o faquir asceta
projeta-se ao céu
sem medo do incerto.
Sempre como antes,
frente ao poço de desejos
sem saber o que queremos.
Sempre como antes,
repetindo os mesmos erros
acusando o imperfeito.
Em sua urna,
nadando em cinzas,
o invencível não se alcança
no invisível.
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2. |
Hoje o Resto Não Importa
03:14
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Eu quero um amor que corra como o vento.
Traga beijos e desejos.
Um amor que queime o coração.
Sem posse, propriedade ou pudor.
Que me pegue pelas mãos
e me leve pra longe,
pra sentir os pés na areia e o mar.
E deitar olhando o céu piscar os olhos
dizendo pra não ter medo.
Temos tudo o que faz respirar.
Hoje o resto não importa.
Tem vezes que eu me pego lembrando e sinto dor.
É difícil não querer tudo pra si
e não ser egoísta.
Mas, a vida sempre vence o fugaz.
E as surpresas que ela traz
me levam pra longe,
pra sentir os pés na areia e o mar.
E deitar olhando o céu piscar os olhos
dizendo pra não ter medo.
Temos tudo o que faz respirar.
Hoje o resto não importa.
“Amor-fati: seja esse doravante o meu grande amor!”
Que sou alguém que diz SIM.
Então me leva pra longe
pra sentir os pés na areia e o mar.
E deitar olhando o céu piscar os olhos
dizendo pra não ter medo.
Temos tudo o que faz respirar.
Hoje o resto não importa.
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3. |
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Eu joguei outra garrafa ao mar
com um pedido de socorro a quem puder me salvar:
“— Já não há mais nada meu aqui,
correndo em torno da ilha sem nunca me alcançar!”
Que os planetas se alinharam e eu só quero fugir,
queimar as roupas na fogueira e cirandar até cair.
Que eu tropeço, me levanto, existe algo em mim
que me faz seguir o Sol e nunca desistir — A Lua e não o fim.
Eu sou bicho de caverna, não sou de muitos amigos,
mas tenho quem me queira bem.
E não tenho muito a perder, umas caixas, alguns discos,
mas tenho amor por viver.
Que estou cansado de tentar me explicar,
consertar todas as coisas e sempre virem mais.
Não tenho todas as respostas, não quero chegar primeiro.
Não quero mais ferir meus dedos cavando no cimento — Meus olhos contra o vento.
Estou sobre dois pés na torre com o transmissor no talo:
— Alguém aí no radar?
— Alguém quer dançar e não correr?
— Alguém quer montar cabanas, viver bem longe daqui
e falar de amor, da gente ser feliz e não do que comprar ou de quem é a culpa?
Diz, sei que você me entende,
nem tudo está perdido,
é esse mundo que está torto,
não esse espírito — Não as nossas tribos.
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4. |
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Foi um erro a linha curta demais
para marcar a saída e voltar.
Agora nem a sombra atrás.
Um cigarro sentado no escuro,
ao olhar de pena do minotauro
que um dia cansou de se importar.
Fio de vida num
"solitário torrão de rocha e metal".
Vou sem pele a caminhar,
não me telefone que onde estou não há sinal.
Vou descer pelo vulcão,
moedas nas pálpebras, arriscando a contramão.
Quando Deus e o Diabo
disputam sua voz,
como não se sentir especial?
Quando a serpente sem dentes sorri
e aplaude em pé cada conquista e marco de sua vida
como resistir aos flashes e gritos?
Chão Zero, ser ou nada,
é sempre a mesma pergunta afinal.
São três horas da manhã,
tudo está fechado e você já me esqueceu.
Não sei como aconteceu,
um erro do espaço e tempo em que a gente se perdeu.
Cão desfamiliado, brindo a chama em Cassiopéia,
vago pelas ruas, sigo Nero e suas velas.
Sem porto seguro, tudo pode acontecer,
não sei se foi certo, só que tive que fazer .
- Não retorno, o que tiver de ser será!
Só um pouco pra chegar ao centro do inferno
onde os deuses passam mal de tanto calor
e ninguém pode julgar
o homem que arrancou os olhos para então enxergar.
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5. |
Entre a Pressa e a Calma
03:18
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Não se levante, não vá muito longe.
Fica aqui perto e deita em meu peito.
Que teu corpo assim, junto ao meu,
tão perfeito e tão suado,
congela o tempo e o meu vazio
se transforma em sagrado.
Temos nosso próprio calendário
e relógio de planetas
pra olhar o sol avançar lento
entre as frestas da janela.
Dama da noite, não me esqueças:
Tão bem me queres são violetas.
E você é flor à meia luz
no momento intocável
em que teu cheiro me faz jardim
e de meu beijo teu orvalho
a descer sem pressa
a perfeição de tua pele,
permitindo que o medo suma
em pés na terra e tudo seja infinito.
Lá no espaço tudo está sem lugar.
Sou cosmonauta e você o meu ar.
Então vem me encantar qual gato na lua.
Vem explodir em mil estrelas
e parir a galáxia em que tudo acontece
se estiver nessa festa,
pra dançar nua o Bóson de Higgs
pagão dessa floresta
em que tudo é deus e eu tão teu,
te entrego minha alma
pra só existir nesse feitiço
entre a pressa e a calma.
Faz consagrado
o nosso pecado.
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6. |
Janeiro e o Lobo
02:51
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"Entre o querer e o não querer bem
há uma linha tênue." — riu o lobo
ao pequeno pastor de ovelhas
que lhe abriu o coração e lhe tirou do frio.
Longe do vento, sob um mesmo teto,
temos folhas secas e calor.
Céu de Janeiro, sempre um recomeço,
sempre a nova chance ao perdão.
Seguimos sinceros confessando
o que nos enfraquece e tão pura foi
a seiva das palavras que a inocência ergueu pontes
e partiu segredos ao chão.
E quando a chuva vem,
agradeço por esse lar,
que sei que o tempo é o que faz
tudo tão certo e eterno.
E durmo em paz
por saber que por mim estás.
Então a noite veio e uivou pela floresta
quando te vi correr ao breu
com meu amor rasgado em teus dentes.
Partindo em mil pedaços
o que te fez família
sem remorso algum.
Ah, maldita seja a hora em que,
por devoção, me fiz cego à natureza do que é traiçoeiro.
E amaldiçoado seja esse meu coração
que dá sempre a outra face e espera por bondade.
Longe do tempo, não corremos perigo,
contudo no peito queima a dor.
Céu de Janeiro, chore nestes erros e não
me deixes mais abrir aos lobos.
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7. |
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No olho do furacão
meu espírito caminha,
minha força grita luz.
Estrela da manhã,
o meu corpo em brasa
não me inflama a carne.
Estrela da manhã,
rodeie pela terra,
passeie pelos campos.
Leves notícias com o vento
a que as crianças do sol
saibam que não estão sós.
E nem a distância ou o tormento
dos que não as compreendem
podem partir essa voz.
No olho do furacão,
seja ofuscante,
estrela da manhã.
No olho do furacão
meu espírito caminha,
minha força grita luz.
Somos crianças do Sol,
mas também reis do luar,
filhos da deusa do Amor.
E se a solidão é a covardia
que os arautos da agonia
fazem a espada da dor.
Somos senhores da terra,
não tememos essa guerra
e não caímos sem lutar.
No olho do furacão,
me dê forças,
estrela da manhã.
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8. |
Rosa Lacustre
03:42
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Então se foi,
desceu a correnteza
e já não se vê mais.
Lavou na queda o certo e as certezas.
E estou bem.
Apenas estou diferente.
Estou bem,
mesmo sem tantas respostas.
Sigo o rio e deixo me levar pra frente.
Solto as mãos de sua nascente
e faço leito o curso rumo a foz,
rumo ao encontro de nós dois.
Nem tudo que é direito faz sentido
e nem tudo que faz sentido
é direito de fazer.
Me vi Narciso e perguntei:
Quer ser barco ou quer ser rio?
Quer ser braço ou ser feliz?
Que o pulso passa
e estou certo mas sozinho.
De que vale isso tudo
sem ter você aqui?
Deixo me levar pra frente,
solto as mãos de sua nascente
e faço leito o curso rumo a foz,
rumo ao beijo das águas.
Meu rio só corre pra você.
Onde deságua e faz nascer
o oceano desse amor.
Tão fundo e cheio de nós dois.
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9. |
O Barbeiro de Occam
02:30
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Nadando contra
a tempestade de areia
da ampulheta da existência,
os olhos cheios de grãos e cegos
te empurram ao incerto.
Até quando vai se desculpar
pelo que só não entende?
Até quando vai se flagelar
com a face na parede?
Ainda não entende a ida.
Ainda não aceita.
Quando tem todas as respostas
vê que as perguntas mudam,
eis o grande infortúnio.
Quando vê, o ponteiro já venceu
os meses e anos,
não funcionam os planos.
Então vem pra cá,
que hoje está tão quente,
e o frescor da sombra
é o que há de importante.
E a flor é a flor,
o amor que vale a pena,
a dor é a dor
e nada é problema.
Ainda busca as saídas.
Atribuir a culpa.
Se o tempo despeja areia aos dias
que ergamos castelos e,
caso as ondas os derrubem,
que seja noite de dormir ao relento,
contemplar o universo
e saber que tudo somos,
e TUDO é bem mais.
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10. |
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Parece que foi ontem.
Eu te ligava em casa
e te contava quem
ia tocar no fim de semana.
E você soltava um grito,
tua voz se encantava,
era como se eu pudesse
ver teu sorriso brilhar.
E não sei o que acontece,
toda vez que eu lembro assim
é como estar em casa.
E não sei por que parece
que tudo ainda está aqui
se tudo está tão mudado.
Ainda tenho as camisetas
e mesmo que não sirvam mais
não consigo desfazer,
me parece tão errado.
Ainda sei todas as frases,
e sabe, ainda tudo faz
tanto sentido para mim.
Sei que pra você também é assim.
Só sei que todo dia eu chego em casa
e não sei como estou aqui.
Tudo aconteceu tão rápido
e amo tudo o que vivi,
só não queria ter perdido
o que mais amei em mim.
Na verdade não perdi,
ainda está aqui,
pulando no peito
me dizendo pra cantar
a nossa música
e fazer tudo ganhar
cores outra vez.
Uma pedra na janela
e meu mundo se acende.
Você veio aqui
me entregar o disco
que gravou pra eu conhecer
o novo Promise Ring
e vamos pular da cama
e sentir que estamos vivos.
E não sei o que acontece,
toda vez que eu lembro assim
é como estar em casa.
E não sei por que parece
que tudo ainda está aqui
se tudo está tão mudado.
Outra vez voltar pra casa
cantando alto pelas ruas.
Os vizinhos enlouquecem,
segunda a vida continua.
Mas ainda estamos juntos
nesse nosso universo
em que tudo faz sentido
e parece tão correto.
Só sei que todo dia eu chego em casa
e não sei como estou aqui.
Tudo aconteceu tão rápido
e amo tudo o que vivi,
só não queria ter perdido
o que mais amei em mim.
Na verdade não perdi,
ainda está aqui,
pulando no peito
me dizendo pra cantar
a nossa música
e fazer tudo ganhar
cores outra vez.
E já fazem tantos anos
e amo tanto os meus filhos.
Mas ainda sinto tudo
aquilo aqui comigo.
Como se a qualquer segundo
você fosse me ligar
e me falar da banda
que vamos ver tocar.
E não sei o que acontece
que o tempo não passou pra mim.
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11. |
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Eis que me cansei de ser distante
e vi que a distância nunca esteve aqui.
Entre ruínas e pedaços
o que perdi foi o que não partiu.
Ah, se eu soubesse disso antes,
não teria sido errante do que sempre quis.
Fiz-me escravo disso tudo
e no final não encontrei amor.
O que foi perdido nunca foi meu
e o que mais perdi foi a mim.
O que foi perdido nunca foi meu
e o que mais perdi fui "Eu".
Sempre procurei ver no exausto
a poesia que não preencheu.
Que lá no inalcançável horizonte
tudo parecia infinito.
Ah, que se soubesse que a casa
que sempre busquei esteve perto assim.
Não teria derretido as asas
voando ao fogo que me consumiu.
O que foi perdido nunca foi meu
e o que mais perdi foi a mim.
O que foi perdido nunca foi meu
e o que mais perdi fui "Eu".
Todavia, o quanto desisto já insisto,
que sou teimoso demais pra cair.
Sou devorador de tempestades,
me faz grito a tormenta em mim.
E o que está perdido está perdido
vou atrás do que preciso e já sei onde correr.
E o que está perdido está perdido
vou atrás agora do que me faz arder.
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